terça-feira, 28 de novembro de 2017

Próxima edição!!!

A sexta edição do Festival Brasileiro de Teatro Toni Cunha já tem data prevista para sua realização: MAIO de 2019

Mas, até lá, muitas novidades ainda serão divulgadas, para que o nosso Festival se solidifique ainda mais e entre definitivamente para o calendário de eventos do país!

Aguarde!!!


domingo, 29 de outubro de 2017

Crítica: Um, Dois, Três: Alice!

Um, Dois, Três: Alice! - foto SeCom Itajaí
UM, DOIS, TRÊS: ALICE! - DO JOGO À LINGUAGEM POÉTICA 
por Marco Vasques

A Téspis Cia de Teatro é uma das mais profícuas e longevas companhias de teatro catarinense. Estão na estrada desde 1993 e conseguiram produzir uma linguagem muito própria. Inicialmente, a Téspis começou trabalhando com adaptações de textos clássicos, o que atendia suas necessidades e investigações cênicas e, em 2009, começou também a trabalhar com dramaturgias próprias. Tanto o movimento de adaptações quanto o de criar sua própria dramaturgia fortaleceram ainda mais a companhia. Seus espetáculos transitam entre o teatro lúdico e poético dedicado ao público infanto-juvenil, até a um teatro mais experimental e existencial. A companhia vê o teatro como uma forma de entender o mundo e entender-se no mundo. Assim, ao longo desses 24 anos, a Téspis mantém-se firme na busca por esse entendimento.

Lewis Carroll, de onde vem a inspiração para o espetáculo Um, Dois, Três: Alice!, viveu entre 1832 e 1898. Nos 66 anos de sua vida ele foi romancista, contista, fabulista, poeta, desenhista, fotógrafo, matemático, professor e reverendo anglicano. As múltiplas funções não o impediram de escrever uma das obras mais icônicas da literatura mundial: Alice no país das maravilhas. Trata-se de um mundo gigantesco de fantasia, cor, nonsense, que se desdobra em muitas leituras possíveis e que devido às inúmeras adaptações, sobretudo para o cinema, ainda vive no imaginário popular e erudito. Foi lida por gente antagônica como Oscar Wilde e Rainha Vitória. Alice no país das maravilhas ganhou o mundo, mas sua obra-irmã, Alice através do espelho, em que a personagem se vê diante de um espelho mágico em uma festa e o atravessa para, novamente, adentrar seu mundo das maravilhas é menos conhecida, lida e difundida.

O espetáculo Um, Dois, Três: Alice!, que a Téspis apresentou no Teatro do Sesc, durante do 5° Festiva Brasileiro de Teatro Toni Cunha, é um mergulho livre nestas duas obras. Uma das primeiras coisas a se ressaltar em Um, Dois, Três: Alice! é o cuidado e o respeito ao universo infantil. Dito assim, pode parecer pouco, mas é muito, sobretudo, porque o teatro feito para crianças, não raro, tende a idiotizar e pasteurizar o riquíssimo universo da criança. Todos fomos crianças - ou temos uma ao nosso redor - e sabemos muito bem que o jogo, o feérico, a capacidade de ver o mundo sob perspectiva não contaminada pela razão e o encontro com as coisas de forma desinteressada são característica que, quando crianças, aguçam nossas sentidos, curiosidades e olhares.

Ao explorar quatro camadas bem definidas: música, imagem, gesto e palavra, o espetáculo leva em consideração justamente esse jogo com os sentidos, com a curiosidade e com a construção de novas miradas, outras moradas. Para cada um desses elementos citados encontramos uma partitura específica, mas que recebe um tratamento dramatúrgico preciso e equilibrado.

A opção por reduzir ao máximo o campo verbal e ampliar os recursos lúdicos por meio de imagens e da expressividade dos atores, faz com que entremos num mundo sugerido, num mundo a ser explorado, num mundo que pode ser inaugurado e apreendido de muitas maneiras. Mais uma decisão acertada do grupo em não se acomodar em contar uma história de forma linear, além de manter evidente consonância com o universo inventivo da Alice.

Apenas no campo musical encontramos alguma dissonância em relação ao todo de Um, Dois, Três: Alice!. Bastante linear e renitente, a trilha sonora do espetáculo se torna, em alguns momentos, pesada em demasia e contrasta com a ludicidade e com o mundo feérico apresentado.

Os atores Denise da Luz, Jônata Gonçalves e Cidval Batista Jr., muito exigidos em suas interpretações, estão soltos em cena para o jogo. Em português, “atuar” se distanciou um pouco de “jogar”, mas em outras línguas, como o inglês o francês, a mesma palavra serve para as duas ações, que tem muito mais semelhanças do que diferenças. A noção de jogo, tão explorada por Jean-Pierre Ryngaert e tida por Denis Guénoun, sobre tudo no livro O teatro é necessário?, como o princípio primeiro da prática teatral está presente no trabalho do início ao fim.

Jogar-atuar são funções culturais que acompanham a humanidade desde sempre. Imaginação, invenção, mentira são extensões possíveis da ação de jogar-atuar. E o teatro, talvez seja a arte que tenha mais proximidade com essas ações, que as usa como matéria-prima, alimento mesmo de sua existência. Um, Dois, Três: Alice! é uma mergulho aberto, límpido nesse mundo amplo do jogo, o que demonstra que a Téspis fez uma leitura aprofundada dos textos de Carroll, que em primeira instância tem como questões centrais: a discussão sobre linguagem, a inauguração de mundos e a reinvenção da linguagem denotativa e saturada, com isso, a Téspis consegue com Um, Dois, Três: Alice! dar ao pequenos, e aos adultos, o direito ao jogo e à linguagem poética.
Um, Dois, Três: Alice! - foto SeCom Itajaí


FICHA TÉCNICA
Dramaturgia e encenação: Max Reinert
Atuação: Denise da Luz, Jônata Gonçalves e Cidval Batista Jr.
Figurinos: Denise da Luz
Vídeos e animações: Leandro de Maman
Operação Técnica: Guilherme Raphael Caldeira
Cenotecnia: Fer-Forge
Assessoria de Imprensa: Jônata Gonçalves
Fotografia: Fernanda de Freitas Pereira

sábado, 28 de outubro de 2017

Crítica: Apto 401

Apto 401 - foto Marcos Porto
APTO 401 – A RECUSA AO CONVITE
por Marco Vasques

Na sinopse do espetáculo Apto 401, encontramos os seguintes dizeres: “haverá chapeuzinhos, bolo, bebidas, língua de sogra... Ela assoprará as velas. Venha, você é a convidada. Venha, você é o convidado.” E é justamente aqui que cabe a primeira reflexão sobre o espetáculo, pois ele propõe um convite ao espectador, se propõe como um ato de compartilhamento, no entanto, é construído de forma a ignorar completamente os participantes. Torna-se uma recusa ao convite. Convida-nos, mas não nos faz entrar e participar da festa.

Antes de todo o público entrar no teatro, uma integrante do grupo pede que entrem apenas cinco mulheres, que serão as amigas da atriz Valéria de Oliveira, adentrem por primeiro. Logo após as amigas, sete homens serão convidados a entrar, serão os ex-maridos. Somente após esse ritual o público remanescente é autorizado e convidado a se aconchegar. No entanto, esse ritual se torna inócuo e não revela nenhuma consequência no decorrer do trabalho, já que ex-maridos e amigas terão uma participação tão passiva diante do trabalho quanto o restante do público.

Nas cadeiras: brigadeiros, chapeuzinhos e bebidas. Ao fundo vídeos evocando Medeia, Lady Macbeth e Ofélia. Valéria de Oliveira nos recebe dormindo. Sim, ela nos chama para a sua festa, com promessas de compartilhamento, e nos recebe dormindo. Isso não seria necessariamente um problema caso se conectasse dramatúrgica e metaforicamente com o seu suicídio ao final do espetáculo. Mas isso também não acontece. Talvez fosse um registro irônico, mas a ironia pressupõe contexto e alguma abertura no sentido da mensagem. Não foi o caso apresentado.

Há a evocação de uma Medeia, que mata os filhos para se vingar de seu marido Jasão; de Lady Macbeth, que trama com o seu cunhado o assassinato de seu marido no que poderíamos chamar, metaforicamente, de um golpe de estado; e de Ofélia, a filha de Apolônio, que é encontrada morta num rio ao descobrir as inconstâncias do amor e da vida. Porém a evocação dessas mulheres e seus mundos não atravessam o espetáculo, não dialogam e não se conectam com a ação em curso em Apto 401.
Apto 401 - foto Marcos Porto

Osmar Domingos, que assina a direção, não consegue estabelecer uma organização na infinidade de elementos que se apresentam, que vão desde as referências já citadas ao universo da música romantic-pop. Há muitos desencontros na estética proposta, por exemplo, o trabalho reclama para si um ar de performatividade, mas estaciona suas partituras no ato representacional e cenários, por exemplo, no registro realista.

A atriz Valéria de Oliveira, há 13 anos à frente do Grupo Porto Cênico, em seu primeiro solo da carreira decide por não arriscar as potencialidades e se apresenta tímida em sua atuação. É preciso que ela encontre a força expressiva de sua arte, de sua personagem e traga isso a público. Apto 401 sugere, em alguns momentos, que a discussão em questão, que a inquietação do grupo é sobre a condição da mulher e os abusos a ela impostos por uma sociedade machista e dominadora.

Mas isso fica como mera sugestão em duas cenas: uma em que Valéria de Oliveira dobra meias e cuecas de seus ex-maridos. Único momento em que o espetáculo propõe algum jogo com o sete homens selecionados no início e na cena em que ela quase usa, mas de forma incipiente e sem jogo, as suas amigas como coro ao relatar que em sua vida há a representação de todas as suicidas, todas as mulheres que atiram suas cabeças ao gás do fogão, todas as mulheres que cortam seus pulsos, todas as mulheres que morrem de overdoses de remédios, enfim, nesse momento aparecem pistas por onde o espetáculo pretende caminhar.

Mas são apenas pistas, frouxas, sem domínio interpretativo, sem uma direção consciente de seu papel, sem algo que estabeleça relações com as infindáveis referências trazidas gratuitamente ao palco e, sobretudo, sem o convite prometido ao público, que sai do espetáculo da mesma maneira que entrou, ou seja, com impressão de que não foi ao teatro, porque tudo lhe é alheio.

FICHA TÉCNICA
Dramaturgia: Osmar Domingos e Valéria de Oliveira
Direção, cenografia, iluminação: Osmar Domingos
Atuação, figurinos, adereços: Valéria de Oliveira
Canção original: Aline Barth
Comunicação: Karoline Gonçalves
Fotografia: Ana Beatriz de Oliveira

Apto 401 - foto Marcos Porto

MOMO: ALTERAÇÃO DE HORÁRIO! ⚠⚠⚠


ALTERAÇÃO DE HORÁRIO! ⚠⚠⚠ 

O espetáculo "Momo - para Gilda com Ardor" teve modificação no seu horário! 

O espetáculo está programado para iniciar às 21h no Teatro Municipal de Itajaí! 

Sinopse: Em seu primeiro trabalho solo, Ricardo Nolasco se apresenta como o artista híbrido que é (da performance, situacionista, poeta, artista de cabaré e do teatro experimental). Através do estudo da obra de Alejandro Jodorowsky, o processo remapeia a cidade de Curitiba na busca por Gilda (travesti mendiga famosa nas ruas do centro de Curitiba nos anos 70, morta em 1983) buscando construir uma nova possibilidade para o real através da ficção. Pés marcados no cimento quase duro de uma política de revitalização. No corpo do performer entrelaçam-se mitologias, memórias, percursos, vidas, acontecimentos. E um recipiente alquímico - encruzilhada - lápide sacrificial. Carta manifesto psicomagia rito jocoso carregada de sarcasmo e ironia. Um espetáculo bufo. Uma tragédia pós pré - dramática. Uma opereta work in progress xamã. Ditirambo. Peça a fantasia. Vida vagabunda, destino vadio, carne de carnaval. Gilda é puro Jazz! 

Classificação Indicativa: 18 anos 

Duração: 60min

Crítica: Berlim - dois corpos à procura

Berlim - foto Marcos Porto
BERLIM – TODAS AS CIDADES, A CIDADE.
por Marco Vasques

“Os tempos ditatoriais estão em voga de novo”. “Estamos retrocedendo ao passado”. “Fascismo avançando novamente”. Essas são algumas das frases mais ouvidas por agora, não apenas no Brasil, mas praticamente em todo o Ocidente. Nessas frases, e em outras do mesmo tom, parece haver uma perda de liberdade para o obscuro, para a censura e a violência daqueles que odeiam qualquer diversidade. No entanto, há grupos em que essa provável liberdade perdida nunca existiu, esse “retorno do fascismo” não faz sentido porque o fascismo sempre esteve em suas vidas, nunca foi uma ausência. Entre esses grupos estão as travestis, os homossexuais e transexuais.

Eles-elas sempre existiram em qualquer sociedade, em algumas até são cultuadas. Mas na nossa sociedade, civilizada, desenvolvida, capitalista, tecnológica esse grupo é jogado à margem, aos esgotos, às madrugadas, à pista. Sempre houve pouca luz sobre eles-elas: são violentadas, abandonados, largadas, mortos. Não as vemos, porque desumanizados: nós, os cegos violentos; eles-elas as vítimas. Uma minoria consegue escapar do destino, consegue a inserção na “naturalidade” da vida cotidiana e diurna, a maioria ainda permanece à mercê de qualquer sorte trágica. A luta é grande, contínua, prenhe de derrotas, mas também grávida de vitórias.

Berlim: dois corpos à procura, apresentado durante o 5º Festival Nacional de Teatro Toni Cunha, no Teatro do SESC, pode ser considerada uma dessas vitórias. Os atores Leandro Cardoso e Mauro Filho usam de suas experiências, de suas vivências para universalizar o esgotamento de uma sociedade que insiste em não se olhar no espelho, o esfacelamento de um mundo que prefere como residência a hipocrisia, a violência em suas mais variadas cores. Sim, o ponto de partida de Berlim é o espancamento diário sofrido por pessoas que têm uma orientação sexual que desafia a normatividade, mas o espetáculo se amplia de tal maneira, que fala e denuncia toda espécie de achatamento do humano.
Berlim - foto Marcos Porto

E o que é Berlim? É a defesa do direito ao corpo para fora da pancadaria, para fora da possibilidade do soco. A defesa do corpo para dentro da possibilidade da vivência individual e coletiva. É a não aceitação da força, da castração, do apagamento e da invisibilidade imposta pela normatividade embrutecida. É luta para não se perder o direito à corporeidade. É investigação da vida e suas potencialidades. É a nossa crueldade em fratura exposta. Berlim fala sobre ter muitas direções, muitos lugares e moradas. A luta se estabelece pelo hoje, pelo agora e, também, pelo amanhã. Apresenta a dança de nossas crueldades e danações.

E o que se quer em Berlim? Arte, vida livre, direito à liberdade e o desejo de um mundo mais equivalente. No entanto, o espetáculo não se ancora no discurso, na palavra para gritar. Com mergulho aprofundado e consistente na performatividade, na dança e no teatro é na coreografia dos corpos que se centra a força expressiva do trabalho. A luta corpórea que toca os embrutecimentos, mas também o que temos de mais terno.

Nada se apresenta em excesso. A música, a iluminação, a palavra, os gestos são dosados por uma dramaturgia que leva em consideração o peso de cada elemento para o todo. Se, como dissemos no início, uma onda conservadora se avoluma sobre nós é preciso entender que em outras épocas essa mesma onda nos assolava em silêncio. E mais: exigia que as vozes contrárias aos seus extermínios não contestasse. A arte como um todo sofre ataques faz tempo, muito tempo. O teatro, que é uma arte social por excelência, tem dado respostas à vigilância dominante. Pela sua capacidade de abrir novos lugares no homem e na cidade, há quem não suporte e resista ao ver as suas estabilidades, as suas seguranças, os seus privilégios e as suas visões serem confrontados diretamente. Berlim é uma dessa vozes necessárias ao seu tempo, ao seu homem e a nossas cidades.
Berlim - foto Marcos Porto


FICHA TÉCNICA
Atuação: Leandro Cardoso e Mauro Filho
Direção de cena e técnica: Pietra Garcia
Coreografia e textos: Mauro Filho
Trilha sonora original sugerida: Karma Cia. de Teatro
Ambientação sonora e remix: Hedra Rockenbach
Cenotécnica: Ronaldo Rocha
Figurinos: Leandro Cardoso e Pietra Garcia
Costuras: Lélia Machado de Melo
Fotografia: Denis Natan
Design gráfico: Thiago França
Assessoria de Imprensa: Pietra Garcia

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Último fim de semana do Festival de Teatro com programação imperdível

O Dragão de Fogo - foto Marcos Porto
Evento encerra no domingo com espetáculo na Beira-rio

Desde domingo (22), todos os dias Itajaí recebe apresentações de peças teatrais de grupos locais e de fora, além de rodas de conversas e oficinas. Tudo isso faz parte da programação do 5º do Festival Brasileiro de Teatro Toni Cunha que encerra neste fim de semana (29).

Segundo o Superintendente da Fundação Cultural, Normélio Pedro Weber, o Festival tem contribuído com a formação de novos públicos para as artes cênicas. Com uma programação que reúne os melhores espetáculos nos âmbitos local e nacional, as apresentações estimulam o consumo de arte. "A qualidade do espetáculo é fundamental para a formação de plateia, serve como estimulante", reflete.

Os atores, atrizes e grupos da cidade também são beneficiados com o Festival. Eles têm a oportunidade de experimentar novas modalidades, técnicas e linguagens de fazer teatro com as atividades propostas por grupos convidados. O intercâmbio cultural auxilia na formação profissional de cada um deles.

"Outro fator importante é que os grupos visitantes levarão para suas cidades de origem as características dos grupos de Itajaí. Isso faz com que as nossas companhias também ganhem visibilidade e tenham a oportunidade de participar de circuitos com seus espetáculos", destaca Normélio ao defender ainda que isso qualifica a cena teatral da cidade.

Após uma longa semana que intercalou espetáculos locais e nacionais, neste fim semana o público poderá acompanhar peças de três estados diferentes. O festival encerra da mesma forma que começou, com teatro de rua. O grupo Teatro de Mamulengo do Mestre Valdeck de Garanhuns (SP), leva para a Praça Genésio Miranda Lins (Beira-rio), o espetáculo "Simão e o Boi Pintadinho", que promete fechar o evento com clima de festa.

"Temos a certeza de que realizamos mais um Festival de sucesso, que voltou a crescer e ganhar importância e certamente servirá de alavanca para os próximos " comenta o superintendente.

O 5º Festival Brasileiro de Teatro Toni Cunha é um realizado por meio do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac / Lei Rouanet), com patrocínio de Lojas Havan, Brasfrigo S.A., Banco do Brasil e Bompack.



PROGRAMAÇÃO FIM DE SEMANA


Dia 28/10 (sábado) - 11h
Roda de Conversas: Diálogos sobre a Cena

Sinopse: Com a presença de Toninho do Valle e Marco Vasques, este será um espaço para trocar impressões sobre os espetáculos assistidos durante o festival, com ênfase na produção local. Mais do que um espaço de avaliação, é um momento para exercitar o olhar sobre o fazer teatral, seus caminhos e conceitos. Um momento de encontro aberto aos artistas, estudantes de teatro e também para o público interessado em saber mais sobre os modos de produção no teatro. Espetáculos locais do dia: Um, Dois, Três: Alice! (Téspis Cia. de Teatro) e Dois Amores e Um Bicho (Cia. Experimentus)

Local: Casa da Cultura Dide Brandão
Classificação Indicativa: Livre
Duração: 60 min
Observações: Espaço indicado para estudantes de artes, atores e interessados em processos criativos.
Valor: GRATUITO


Dia 28/10 (sábado) - 15h
Mostra Nacional
Espetáculo: O Gigante Egoísta
Artesanal Cia. de Teatro (Rio de Janeiro – RJ)

Sinopse: Depois de passar sete anos na casa de seu amigo Ogro, o Gigante descobre que crianças invadiram seu palacete para brincar em seu jardim. Ele expulsa as crianças de sua propriedade e constrói um muro que a separa do resto da cidade. Isolado e sozinho, o Gigante percebe que o inverno hospedou-se definitivamente em sua casa e que a primavera recusa-se a voltar ao seu jardim, agora eternamente coberto pelo gelo e pela neve. Porém achegada de um menino que resolve brincar no jardim, apesar da sua proibição, traz de volta a primavera e faz com que o Gigante reconheça o quanto tinha sido egoísta.

Local: Teatro Municipal de Itajaí
Classificação Indicativa: Livre - recomendado a partir de 5 anos
Duração: 50 min
Valor: R$ 20 inteira e R$ 10 meia


Dia 28/10 (sábado) - 19h e 21h
Mostra Nacional
Espetáculo: Kiwi
Projeto Grande Elenco (São Paulo – SP)

Sinopse: KIWI acontece em meio ao processo de reurbanização imposta aos moradores de uma cidade para a realização dos Jogos Olímpicos. Uma garota, abandonada por sua família após o desalojamento. Nas ruas ela conhece a Família Verde: uma turma de crianças e adolescentes que assumem nomes de frutas e legumes. Eles acolhem a novata, desde que ela respeite suas regras: esquecer seu antigo nome e colaborar para subsistência do grupo por todos os meios. Apenas uma coisa é proibida: matar. Batizada de Kiwi, ela precisará aprender a viver na selva urbana. Como sobreviver à fome, ao frio, às doenças e às drogas? A resposta vem através da assistência mútua dentro do clã e, especialmente, da proteção de seu companheiro Lichia. Eles brincam com jogos de faz-de-conta impossíveis, admiram os pássaros brancos que voam no céu e sonham com o lar que a comunidade pretende comprar.

Local: SESC Itajaí
Classificação Indicativa: 12 anos
Duração: 60 min
Valor: GRATUITO - retirar ingresso uma hora antes


Dia 28/10 (sábado) - 20h
Mostra Nacional
Espetáculo: Momo - para Gilda com Ardor
O Estábulo de Luxo e Selvática Ações Artísticas (Curitiba – PR)

Sinopse: Em seu primeiro trabalho solo, Ricardo Nolasco se apresenta como o artista híbrido que é (da performance, situacionista, poeta, artista de cabaré e do teatro experimental). Através do estudo da obra de Alejandro Jodorowsky, o processo remapeia a cidade de Curitiba na busca por Gilda (travesti mendiga famosa nas ruas do centro de Curitiba nos anos 70, morta em 1983) buscando construir uma nova possibilidade para o real através da ficção. Pés marcados no cimento quase duro de uma política de revitalização. No corpo do performer entrelaçam-se mitologias, memórias, percursos, vidas, acontecimentos. E um recipiente alquímico - encruzilhada - lápide sacrificial. Carta manifesto psicomagia rito jocoso carregada de sarcasmo e ironia. Um espetáculo bufo. Uma tragédia pós pré - dramática. Uma opereta work in progress xamã. Ditirambo. Peça a fantasia. Vida vagabunda, destino vadio, carne de carnaval. Gilda é puro Jazz!

Local: Teatro Municipal de Itajaí
Classificação Indicativa: 18 anos
Duração: 60 min
Valor: R$ 20 inteira e R$ 10 meia


Dia 29/10 (domingo) - 17h
Espetáculo Convidado de Encerramento
Espetáculo: Simão e o Boi Pintadinho
Teatro de Mamulengo do Mestre Valdeck de Garanhuns (Guararema – SP)

Sinopse: Seu Vicente Pompeu vai realizar uma grande festa para comemorar o casamento de sua filha e entrega toda produção para Simão e Marieta que são seus afilhados e administradores da fazenda. A festa deve ser bem popular, com culinária e atrações artísticas que agradem toda comunidade. Aparecem uns intrusos querendo mudar tudo e Simão tem que fazer muitas peripécias para que a festa seja realizada.

Local: Praça Genésio Miranda Lins - Beira Rio
Classificação Indicativa: Livre
Duração: 60 min
Valor: GRATUITO

Crítica: Estapafúrdio

Estapafúrdio - foto: Marcos Porto
ESTAPAFÚRDIO – PENSAR O RISO É PENSAR O TEATRO 
por Marco Vasques

A vida humana é sinistra e sempre desprovida de sentido; basta um palhaço para lhe ser fatal”. Essa é uma das frases certeiras de Nietzsche, em Assim falou Zaratrusta. Palhaços, bufões, clowns e bobos têm longa história. A forma como os conhecemos hoje, com suas roupas exageradas, suas máscaras, seus narizes vermelhos, descendem das personagens demoníacas do teatro medieval, no entanto, já transitavam em tempos gregos e romanos – apenas para ficarmos em duas culturas mais conhecidas do ocidente.

Os palhaços, além de serem fatais para o trágico da vida sem sentido, sempre foram vozes à margem, nas fronteiras do deboche, da loucura, da idiotia, talvez por isso quanto mais populares, mais desprezados por uma certa elite intelectual fazedora de cânones. Propp, o pensador russo, é assertivo ao dizer que “o desprezo pelos bufões, pelos atores do teatro de feira, pelos clowns e os palhaços e, em geral, por qualquer tipo de alegria desenfreada é o desprezo pelas fontes e pelas formas populares de riso.

Apesar disso, a palhaçaria sobrevive. Articula-se abaixo e afora dos padrões, estabelece-se cada vez mais como uma das grandes vertentes do teatro: sobretudo porque livre, direta, prenhe daquela vontade de fazer rir pelo ridículo, pela exposição contumaz do não sentido da vida. A palhaçaria como signo da infância, do divertimento, da leveza mas ao mesmo tempo como espaço para a agudeza, a crueza, a força derruidora do humor: características sumamente humanas. Talvez nenhuma outra arte tenha conseguido mesclar tanto os dois sentidos de humor. Todos os grandes clowns, bufões e afins carregam, por trás da alegria, do riso, do gesto engraçado, àquele outro significado de humor, a saber: a melancolia, ou seja, são fatais para a vida desprovida de sentido. Henri Begson, outro filósofo que se dedicou ao riso, por saber que ele possui uma dinâmica, por entender que ele é passível de domínio, afirma que “O riso é a mecânica aplicada no ser vivo”. Então, do domínio artístico da mecânica do riso ao desprezo e ao preconceito característicos, e ainda vigentes, contra qualquer manifestação artística “não séria”, “não aprofundada”, existe um lugar em que não podemos cair, em que não devemos mergulhar.
Estapafúrdio - foto: Marcos Porto


Esse lugar é o de não se fazer um equilíbrio entre a linguagem artística que a palhaçaria exige, de não se preocupar com a construção do riso e suas amplitudes como arte. Se faz necessário fugir desse lugar, porque ele pode reafirmar o discurso comum e aterrador de que qualquer um pode ser palhaço e de que se trata, efetivamente, de arte menor e passível de ser exercida de forma natural, sem pesquisa artística e experimentação de suas linguagens. O espetáculo Estapafúrdio, do palhaço Pacacoenco, não consegue fazer essa travessia necessária e se equilibrar em suas proposições. Não que falte esforço a Charles Augusto. O artista chega a insinuar uma ternura-terror ao início da apresentação, quando vai apresentando pessoas desconhecidas a pessoas desconhecidas na rua, no entanto, na medida em que a atuação avança as limitações do trabalho vão se agigantando e o jogo proposto se mostra ineficaz.

Estapafúrdio abandona o pensamento sobre o riso porque não se pensa como jogo, como teatro. O público se nega a participar do evento, se mostra incrédulo. Para que um palhaço atinja sua força primeira se faz necessário que ele conquiste seu público, que faça seu público acreditar que está diante de um ser que tudo pode fazer, que com tudo pode brincar.

Uma vez dominado seu campo, o palhaço pode mergulhar num copo de água, pode fazer uma cadeira parecer um prédio de muitos andares, pode também, fazer o público mergulhar com ele num simples copo de água e sair banhado de espanto, de ternura, de tristeza e de beleza.

Isso não ocorre com Estapafúrdio. O espetáculo tem a direção de Marcio Libar, autor do livro “Nobre Arte do Palhaço”. O que resulta em questionamentos ainda maiores: como Marcio Libar não problematizou as fragilidades existentes no trabalho? Qual foi a interferência real que ele fez na composição das cenas e roteiro de Estapafúrdio? Como o desprezo pela arte da palhaçaria pode ocorrer por quem a vive e a ama? Charles Augusto precisa encontrar sua arte e seu palhaço para, depois, nos apresentar sua arte. Sem mergulhar nela, o mergulho e o sonho propostos pelo espetáculo se tornam ineficazes.
Estapafúrdio - foto: Marcos Porto


FICHA TÉCNICA
Atuação e criação: Charles Augusto
Direção: Marcio Libar
Direção de arte: Silvana Rocha
Costura: Vera Lúcia Farias e Maria Isolete
Sonoplastia: Charles Augusto
Arte gráfica: Euclydes da Cunha Neto